30.7.09

Final de tarde

No ultimo domingo estava sozinho em minha casa, sentado no meu sofá a tentar descansar, quando o telefone tocou. Sei que eram 20h00 pois o televisor estava ligado e lembro-me que estava a começar o telejornal.
Levantei o auscultador e do outro lado um homem de voz rouca perguntou se estava a falar com o Pedro. Disse-lhe que não, que tinha ligado o numero errado e desliguei.
Depois voltei a encostar-me no sofá e depressa me esqueci do telefonema.
No dia seguinte o telefone tocou outra vez. Era o mesmo homem, fazendo a mesma pergunta que me tinha feito no dia anterior. Voltei a dizer que não e voltei a desligar. Mas desta vez comecei a pensar no que teria acontecido se tivesse dito que sim. E se me tivesse feito passar pelo tal Pedro? Se o homem voltasse a telefonar pelo menos falaria um pouco com ele, e tentaria saber o que se passava. Depois disto as ideias começaram a fervilhar dentro da minha cabeça, e pouco a pouco abriu-se um mundo inteiro de possibilidades. Seria o homem de voz rouca um marido traído procurando vingança? Estaria esse Pedro a dever muito dinheiro a alguém? Podia até ser um agente a anunciar este tinha ganho um prémio chorudo, ou uma viagem! (já me estava a imaginar com os bilhetes na mão)...
Na terça-feira à mesma hora o telefone voltou a tocar, desta vez eu estava no banho e já não fui a tempo de atender a chamada.
Então na quarta-feira fiz um enorme esforço para estar em casa aquela hora, sentia-me estranhamente excitado com toda esta situação imaginaria criada pela minha mente. Esperei que o telefone tocasse outra vez mas a quarta chamada nunca chegou a existir.
Fiquei sem saber quem me ligava todos os dias às 20h00 em ponto, e pior ainda, fiquei sem saber quem era o Pedro e se este existia mesmo.
Hoje fui jantar a casa do meu pai. Como tenho a chave entrei sem bater à porta, o Sr Armando nem deu por mim, estava misteriosamente concentrado com o auscultador do telefone ao ouvido... Eram vinte horas em ponto.